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Do Japão ao Rio das Pedras: A Incrível Jornada de um Relógio Perdido por 20 Anos

  Em agosto de 1975 viajei para Japão e Austrália. Os dois países possuíam programas de substituição do cobre pelo alumínio em cabos telefônicos. O governo brasileiro tinha estabelecido uma Política de substituição de insumos. O Brasil possuía imensas reservas de bauxita, nenhuma reserva significativa de cobre.

Na época, os cartões de crédito emitidos no Brasil vinham com uma tarja que dizia “valid only in Brasil”. Para pagar despesas com hotéis, refeições e outras coisas, a gente se valia de dólares americanos e de “travelers checks”.

Novidades tecnológicas no Brasil eram raras e caras. Pelas ruas de Tóquio, havia uma tentação atrás de outra. Uma profusão de produtos despertava o meu interesse. Preços inacreditáveis. Tudo exposto em vitrines de lojas e em bancas nas calçadas. Mas, era preciso ser cauteloso. A viagem tinha apenas começado. O dinheiro na carteira e os travelers precisavam durar até o fim. Tinha pela frente a missão na Austrália e o retorno para casa, que incluía duas paradas obrigatórias.

Acabei comprando uma máquina fotográfica Olympus XA2 com flash lateral acoplável que conservo até hoje e um relógio Seiko quase igual ao da foto que baixei da Internet. A única diferença é que o mostrador do meu era azul. Mas, a sensação estava no fato do relógio dar corda com o movimento do braço.

No final do ano, viajei de férias. Saí de Brasília com a família com destino ao litoral de Santa Catarina, com escalas intermediárias. Natal em Botucatu, ano novo em Curitiba. Cheguei em Botucatu com o meu relógio novo no braço faltando poucos dias para o Natal de 1975.

Combinamos uma pescaria em família. Era tradição. Participaram, além de mim, meu pai, meu cunhado Zé Amat e dois primos. A pescaria valia pela companhia e pela farra. A gente foi pescar lambari com vara de bambu e anzol miúdo. A isca era massa de pão. Embora Tietê e Paranapanema passem perto de Botucatu, fomos pescar no Rio das Pedras, no município de Itatinga. Rio bem pequeno, águas limpíssimas, leito encascalhado, era possível ver os peixes!

Logo na chegada, na pressa de jogar o anzol e fisgar um lambari de rabo vermelho antes dos outros, escorreguei e só não caí porque me agarrei a um galho de árvore. Mas, um ramo da bendita árvore enroscou na pulseira do relógio, que se partiu. Lá se foi o meu relógio novo para o fundo do rio.

Sem perda de tempo, tirei sapato, meia, calça e camisa e entrei no rio. Quanto mais me mexia, mais a água sujava. Procurei por um bom tempo e nada de encontrar! Para não acabar com a alegria da pescaria, desisti da busca e dei o relógio por perdido. Só que a história não terminou aí…

Em 1982, me mudei para Campinas e as idas a Botucatu ficaram mais frequentes. Meu cunhado, comerciante, industrial e vereador da cidade, fazia parte de um seleto grupo de amigos, que se reunia religiosamente nas manhãs de sábado para “aperitivar”. O encontro era no bar do Chaillot Hotel e se repetiu por décadas. O aperitivo semanal era famoso pelas histórias e fofocas que por lá circulavam. As esposas odiavam os encontros, não só pelos atrasos para o almoço e pela fala mole dos maridos quando voltavam para casa, mas, porque sabiam que muitas vezes eram o objeto das conversas.

Os anos foram passando e num sábado de 1995 o doutor Lilo, médico pediatra da cidade (não sei o nome dele e pouca gente por lá sabe), chegou muito animado e foi logo contando:

“Pessoal, vocês não vão acreditar, ontem à tarde fui pescar no rio das Pedras. O anzol enroscou e, para não perder linha e chumbada, fui puxando bem devagar.
O enrosco veio vindo, veio vindo, e descobri que era um relógio! A pulseira estava enferrujada, mas, o relógio não. Tirei ele da água, dei uma limpada e umas batidas e não é que ele estava funcionando?”

“Mentiroso, mentiroso”, gritou a turma em coro. Mas, meu cunhado interveio, confirmando a história.

“É verdade, esse relógio era do meu cunhado Joaquim Carlos, estava junto quando ele perdeu”!

É inacreditável como são bons esses relógios japoneses. O meu ficou embaixo d’água por vinte anos e não estragou. Estava funcionando. Sensacional! Penso até que pode ter ficado balançando sob o efeito da corrente de água e ganhando sempre um pouco de corda.

Vocês podem pensar que se trata de mais uma história de pescador, mas, juro que é verdade!

Diariamente, somos bombardeados por imensas e desconhecidas energias. A maior parte vem do sol, outras procedem do mais longínquo cosmos.

Essa energia é distribuída de forma regular, para todos. No caso desta história, um galho submerso pode ter mantido em movimento um mecanismo feito pelo homem.

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